quarta-feira, 3 de março de 2010
O OVO, O CAFÉ E A CENOURA
*Américo Marques Ferreira
Apesar de o título sugerir um tema culinário, este artigo trata de liderança e de relações interpessoais. Sabemos que os ingredientes acima reagem de formas distintas quando submetidos à ação de água fervente. Assim, o ovo endurece, o pó de café se dilui tingindo a água e a cenoura cozida amolece. Por analogia, um mesmo estímulo suscitará respostas diferentes de uma amostra de seres humanos, ensejando-nos a conclusão (óbvia?) de que não há duas pessoais iguais na face da Terra, no tempo e no espaço.
Cada indivíduo possui um conjunto de características que o torna singular, dentre as quais podemos ressaltar seu DNA, sua impressão digital, seu fundo de olho, sua arcada dentária, sua história de vida, entre outras tantas. Até mesmo gêmeos univitelinos, popularmente conhecidos como idênticos, apesar das semelhanças físicas, apresentam estilos que os tornam peculiares, chegando a ter características comportamentais diametralmente opostas, como extroversão - introversão, por exemplo.
Com muita perspicácia já dizia Ruy Barbosa: “Não há nada mais injusto do que tratar igualmente os desiguais”. É muito comum se cometer o erro de dispensar um tratamento genérico a um conjunto de pessoas, ignorando as implicações das premissas que acabamos de enunciar.
Ao se pretender lidar “no atacado” com uma situação que envolve várias pessoas, na maioria das vezes, atinge-se a extrema “façanha” de descontentar a todos. Com alguns, errando por excesso de rigor, com outros, pela adoção de medidas insuficientes para corrigi-la.
Isto se aplica tanto para relações familiares, entre pais e filhos, como para o mundo corporativo, entre um líder e sua equipe de trabalho. A guisa de ilustração, vamos analisar as seguintes situações:
QUANDO SE DESEJA MANIFESTAR RECONHECIMENTO A UMA EQUIPE POR UM BOM TRABALHO REALIZADO: Se um líder o fizer de maneira impessoal, sem destacar os méritos de cada integrante para o sucesso coletivo, dificilmente alguém se sentirá estimulado a continuar oferecendo o melhor de seus esforços em decorrência de tal homenagem. Seria semelhante a colocarmos uma bala na boca sem retirar a embalagem, impedindo-nos de degustar o seu sabor.
QUANDO SE CHAMA A ATENÇÃO DE UMA EQUIPE EM FUNÇÃO DE UM ERRO COMETIDO POR UMA ÚNICA PESSOA
Certamente, os que nada tiveram a ver com o problema em questão poderão se sentir injustiçados por aquela generalização indevida. Por outro lado, a pessoa a quem deveria ser dirigida aquela mensagem poderá não aprender com seu erro, pela generalização da culpa. Além da personalização do tratamento anteriormente recomendado é importante ainda se considerar que:
ELOGIO SE FAZ EM PÚBLICO, quer para reconhecimento das contribuições individuais, quer para servir de exemplo e estímulo aos demais.
REPRIMENDA SE DÁ EM PARTICULAR, a fim de permitir a tomada de consciência sobre as causas que provocaram o erro, assim como, evitar-se expor uma pessoa à execração pública, de modo a preservar sua auto-estima.
EM AMBAS AS MENCIONADAS SITUAÇÕES há que se respeitar as características pessoais e o nível de maturidade dos envolvidos.
A NECESSIDADE DE AGUÇAR NOSSA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL, semelhante à capacidade dos morcegos os quais, durante seu vôo, utilizam-se dos potentes “radares” de seus ouvidos para detectar eventuais obstáculos através da reflexão dos sons emitidos por eles mesmos (imperceptíveis aos ouvidos humanos).
CONCLUSÃO
Ao adotar estas recomendações estaremos aumentando a probabilidade de sucesso no exercício da liderança, evitando posturas reducionistas, semelhantes a um elefante numa loja de porcelana, sob a argumentação de que um líder autêntico e justo é aquele que dispensa a todos o mesmo tratamento.
*AMÉRICO MARQUES FERREIRA é Consultor Sênior do Instituto MVC e
autor dos cursos e-learning Gestão da Mudança e Team Building.
Fonte: www44.bb.com.br
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